"Máscara"
Tinha chegado a sua época preferida do ano. O Carnaval.
Contava os dias até à sua chegada. Chorava dias a fio quando este já tinha passado.
No Carnaval, abria a sua pequena mala e retirava o seu bem mais precioso de todos. Uma máscara e um fato.
No Carnaval, ele era o rei. Todos o conheciam, mas desconheciam a sua verdadeira identidade. As crianças adoravam-no e todos gostavam dele, mas nos outros dias do ano, as pessoas não o reconheciam e tratavam-no com repugnância, escondiam as crianças de si e estas tinham-lhe medo devido às histórias que lhe contavam.
E tratavam-no assim devido à sua raça. Era cigano. Vendia as coisas na feira e todos desconfiavam de si, por isso chegava ao fim do mês sem um único tostão.
Não percebia o ódio das pessoas por si e pela sua raça. Por isso, adorava o Carnaval, pois podia esconder-se atrás de uma máscara e ninguém o reconhecia.
Então, nesse dia abriu a mala. Tirou a máscara e o fato. Vestiu-os e saiu para a rua com um sorriso nos lábios.
Mal saiu para a rua, um enorme grupo de crianças rodeou-o a pedirem abraços e companhia. Adorava o Carnaval.
Durante a tarde inteira, percorreu as ruas no desfile com as crianças e até adultos, que gostavam das suas brincadeiras.
Chegou ao fim do dia exausto, mas contente. Os carros alegóricos passavam uma última vez pelas ruas, então subiu no maior que viu.
As pessoas viram-no e aproximaram-se aos gritos de felicidade e tiravam fotos.
Sorriu e muito devagar retirou uma máscara e saudou todo o público.
Ficaram todos calados, olhando para ele muito sérios.
Mas como por magia, desataram aos gritos e a sorrirem, felizes por saber a identidade do seu ídolo.
Então, muito feliz, atirou-se para a multidão, que o apanhou imediatamente.